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Foto do escritorMário Bertini

7 Princípios de uma Psicoterapia Psicanalítica Relacional

Atualizado: 5 de nov.



Em uma sociedade que exige cada vez mais produtividade e eficiência, a psicoterapia psicanalítica emerge como um espaço radical de desaceleração, onde o indivíduo é convidado a questionar o ritmo incessante e explorar suas emoções de maneira profunda. Jonathan Shedler descreve esse processo terapêutico por meio de sete princípios que se tornam, mais do que métodos, convites para um reencontro consigo mesmo. Aqui, cada princípio representa uma resistência aos valores de desempenho e competitividade que permeiam nosso dia a dia.


Primeiro, ao focar nas emoções, a psicoterapia psicanalítica se diferencia de outras abordagens ao insistir que o paciente não só reconheça suas emoções superficiais, mas também desenterre aquelas que foram reprimidas, evitadas, ou julgadas como "ineficientes". Em um mundo que recompensa o controle emocional, a terapia questiona a cultura do "sentir-se bem a qualquer custo". A proposta é criar um espaço onde é permitido sentir, sem a obrigação de "consertar".


O segundo princípio, a exploração de padrões recorrentes, ilumina como certas dinâmicas se repetem em nossa vida. Essas repetições frequentemente refletem estruturas de poder e opressão que carregamos e reproduzimos de maneira inconsciente. Ao reconhecer esses padrões, o indivíduo começa a questionar as “normas” internalizadas, e aqui a terapia se torna um ato de resistência, uma forma de se desviar do roteiro que o mundo parece impor.


A terceira característica, a exploração do passado, nos leva a confrontar histórias e experiências que muitas vezes evitamos, seja por serem dolorosas ou por parecerem incongruentes com a imagem que tentamos construir de nós mesmos. Na terapia psicanalítica, esse processo ganha ainda mais profundidade ao considerarmos os múltiplos estados do self, ou seja, as diferentes facetas que coexistem em nosso interior, moldadas por experiências de diferentes momentos da vida. Em vez de incentivar o popular "deixar o passado para trás," a terapia nos mostra que revisitar nossas experiências é essencial para entender as várias camadas que nos compõem.


Quando olhamos para o passado com essa lente, percebemos que cada experiência, cada memória, está associada a um estado do self que ainda vive em nós — a criança vulnerável, o adolescente rebelde, o adulto que busca aprovação. Esses estados não são "consertados" ou "superados"; eles são integrados, acolhidos como partes legítimas do que somos. Esse retorno ao passado, então, não visa mantê-lo vivo como uma carga, mas sim permitir que todas as versões de nós mesmos encontrem espaço e voz, ajudando-nos a construir um presente mais consciente e libertador, onde podemos acolher cada estado do self com compaixão e entendimento.


No quarto princípio, a análise das relações interpessoais, entendemos que nossas interações com o outro revelam aspectos profundos de nossa psique. Em uma sociedade que valoriza a independência e o “faça você mesmo”, a terapia questiona essa narrativa ao nos lembrar da importância do outro em nossa construção subjetiva. Não há "independência" quando se trata de autoconsciência; somos formados pelas trocas e pelas relações que estabelecemos ao longo da vida.


A relação terapêutica, quinto princípio, é onde a mágica acontece. Ela atua como um espelho onde padrões inconscientes de relacionamento emergem. É curioso pensar que, ao construir uma relação de confiança com o terapeuta, estamos, de certo modo, praticando o repouso, o ato de nos permitir ser acolhidos sem pressa ou julgamento. A terapia se torna, assim, uma espécie de descanso profundo na intimidade de uma conexão humana autêntica.


O sexto princípio, a exploração da fantasia e do sonho, quebra a linha dura entre a realidade e o imaginário. Nossas fantasias e devaneios, ao contrário de serem distrações improdutivas, se revelam caminhos para acessar nossos desejos mais autênticos. Questionamos, então, uma sociedade que valoriza o pragmatismo e desdenha do mundo interior. O direito de sonhar e fantasiar nos liberta das imposições do real, permitindo um descanso mental, uma pausa na tirania do tangível.


No sétimo princípio, a ênfase na autoexploração, o autoconhecimento deixa de ser um ideal envernizado e se torna um processo vivo e dinâmico. Em vez de buscar uma identidade pronta, a terapia nos ensina a ver o “eu” como um contínuo em construção, sem a pressão para “estar completo” ou ser “funcional”. A autoexploração é uma prática de cuidado consigo mesmo que contradiz a pressa da cultura da produtividade.


Esses princípios não só desafiam a ideia de que a terapia deve ser um meio para fins “palpáveis”, mas nos convidam a rever a noção de sucesso e realização. Talvez não estejamos aqui para “resolver” ou “curar” algo em nós mesmos, mas sim para aprender a viver em paz com nossa complexidade. A terapia psicanalítica, então, pode ser vista como um ato político que defende nosso direito ao descanso, ao sentir, ao errar e ao existir sem pressa.


É crucial notar que, ao permitir essa desaceleração, estamos reivindicando o tempo e o espaço para sermos humanos de forma plena, rejeitando o ritmo frenético imposto pela lógica produtivista. Assim, a psicoterapia se torna mais do que uma prática de autoconhecimento; ela é, em essência, uma postura de resistência e um espaço de recuperação, onde o sujeito recupera o direito de ser, de sentir e de descansar.


Em última análise, o trabalho de Shedler convida cada um de nós a encontrar um ritmo próprio, onde o descanso e a introspecção sejam tão valorizados quanto o movimento. Esta forma de terapia nos lembra que, antes de sermos “produtivos”, somos humanos, e que nosso bem-estar depende, muitas vezes, de nossa capacidade de parar, sentir e nos acolher.


Criado com auxílio de IA

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