top of page

A Dança Entre Corpo e Afeto: Uma Viagem Pela Janela de Tolerância

Foto do escritor: Mário BertiniMário Bertini


A integração dos insights da neuropsicanálise com a psicanálise relacional nos convida a repensar a experiência subjetiva e afetiva como um campo onde corpo e mente se encontram em constante diálogo.


A janela de tolerância pode ser entendida, de forma didática, como o intervalo de ativação emocional no qual uma pessoa consegue lidar com o estresse e os desafios do cotidiano sem se sobrecarregar. Imagine uma janela aberta que permite a entrada de uma brisa fresca: se aberta na medida certa, o ar circula sem causar incômodo; se aberta demais ou fechada abruptamente, o ambiente se torna insuportável.


Do ponto de vista neuropsicanalítico, os circuitos cerebrais — que incluem estruturas como a amígdala e o córtex pré-frontal — funcionam como sistemas de regulação que determinam nossa capacidade de permanecer dentro dessa janela. Esses circuitos são continuamente moldados pelas experiências e relações que vivenciamos, operando como ajustes finos de um instrumento sensível.


Na psicanálise relacional, entende-se que o sujeito se constrói na alteridade, e é justamente nesse encontro com o outro que a janela de tolerância ganha vida. O relacionamento terapêutico se torna um espaço onde o afeto e a segurança permitem que o indivíduo explore seus estados emocionais sem ultrapassar os limites suportáveis.


Podemos pensar na janela de tolerância como uma moldura que delimita um quadro: dentro dessa moldura, a cena se revela com clareza e equilíbrio, enquanto fora dela tudo se distorce. Essa metáfora ressalta como a regulação emocional é essencial para manter a integridade do self, permitindo que a intensidade dos sentimentos seja experimentada de forma criativa e não devastadora.


As experiências precoces e as interações afetivas atuam como as raízes de uma árvore, firmando ou fragilizando a capacidade de se manter dentro desse intervalo. Uma infância acolhedora pode ampliar a janela, assim como relações empáticas e seguras ao longo da vida, enquanto traumas e rejeições tendem a restringi-la.


Quando nos deslocamos para fora dessa janela, seja por hiperexcitação ou pela dissociação, é como se um carro perdesse a pista em uma estrada sinuosa ou um navio navegasse sem bússola. Essas metáforas ilustram a perda de controle e a desorientação que acompanham estados emocionais extremos.


A neuropsicanálise mostra que os vínculos seguros podem reconfigurar os circuitos neurais, ampliando a capacidade de tolerância ao estresse. Essa plasticidade cerebral reforça a ideia de que, através de novas experiências relacionais, é possível aprender a lidar melhor com as tempestades internas.


O ambiente terapêutico, nesse sentido, é um espaço sagrado onde a troca interpessoal funciona como um jardineiro cuidadoso, que ajuda a replantar e fortalecer as áreas fragilizadas do ser. O analista, ao oferecer uma presença reguladora e acolhedora, facilita a reabertura gradual da janela de tolerância.


Esse encontro não é meramente técnico, mas ético e transformador. A dança entre analista e paciente exige atenção aos limites e uma sensibilidade que reconhece a vulnerabilidade do outro, permitindo que cada partilha se torne um passo em direção à renovação e à resiliência emocional.


Em última análise, a síntese entre neuropsicanálise e psicanálise relacional revela que a janela de tolerância é tanto um dado biológico quanto uma construção relacional. Habitar essa janela é aprender a equilibrar a intensidade do viver, transformando o caos em possibilidades de cura e crescimento, e a vulnerabilidade em uma força que nos conecta profundamente com o outro.



Criado com auxílio de IA


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


(34) 99102-4491

©2023 by Mário Bertini Psicólogo e Psicanalista

bottom of page