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Entre a Ilusão e a Experiência: Implicações Terapêuticas da Onipotência

Foto do escritor: Mário BertiniMário Bertini

As ideias de Winnicott sobre onipotência lançam luz sobre dimensões fundamentais do desenvolvimento infantil e oferecem um referencial crucial para compreender as dinâmicas que emergem na prática clínica, especialmente na relação terapêutica.


A ilusão de onipotência se manifesta nos estágios iniciais da vida, quando o bebê percebe o mundo como um espaço onde seus desejos são atendidos de forma imediata e mágica, sem a presença de uma realidade autônoma que se contrapõe às suas vontades.


Em contrapartida, a experiência de onipotência vai além da mera ilusão e se configura como um espaço transicional onde a criança começa a experimentar sua capacidade criativa e simbólica, permitindo a integração de uma dimensão mágica com as exigências da realidade.


A diferença entre esses dois conceitos reside na transitoriedade e na evolução de cada um. Enquanto a ilusão é inerente à dependência absoluta do bebê, a experiência de onipotência inaugura a possibilidade de transformação e criação, mesmo diante das limitações impostas pelo mundo externo.


Nesse contexto, o ambiente desempenha um papel crucial, simbolizado pela figura da "mãe suficientemente boa", que acolhe e responde de maneira sensível às necessidades do bebê, possibilitando a manutenção de uma onipotência vivida de forma segura.


Na prática psicoterapêutica, torna-se inevitável o resgate desses estados primordiais, pois os pacientes frequentemente trazem à tona fragmentos de suas experiências iniciais, tanto na forma de ilusões quanto na possibilidade de acessar uma criatividade transformadora.


O terapeuta, ao criar um ambiente acolhedor e seguro, assemelha-se à presença sustentadora de um espaço transicional, permitindo que o paciente reviva suas ilusões sem que estas sejam abruptamente confrontadas com a realidade, o que favorece uma integração gradual.


Essa postura clínica implica lidar com momentos de regressão de maneira cuidadosa, possibilitando que o paciente explore a dependência e, a partir dela, reconstrua novas formas de autonomia, sem temer a perda de sua essência ou o colapso do self.


Intervenções precoces ou excessivamente interpretativas podem fragilizar esse processo, rompendo o delicado equilíbrio entre a proteção do self e o enfrentamento gradual das limitações da realidade, o que pode levar à consolidação de um falso self defensivo.


Assim, a força terapêutica reside na articulação cuidadosa entre a preservação da experiência onipotente e a introdução gradual das restrições da realidade, criando um espaço onde a criatividade e a simbolização possam florescer de forma saudável.


Em síntese, as implicações clínicas derivadas dessa distinção reforçam a necessidade de um ambiente terapêutico que contenha e respeite os estados regressivos, facilitando a transição do paciente para uma onipotência vivida de forma autêntica, e promovendo a transformação das fragilidades em caminhos para o amadurecimento psíquico.



Criado com auxílio de IA.



 
 
 

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©2023 by Mário Bertini Psicólogo e Psicanalista

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