A teoria dos múltiplos estados do self é essa ideia de que nossa identidade não é uma só coisa sólida, fixa. Em vez disso, é uma colcha de retalhos feita de diferentes "eus" que emergem dependendo do contexto, das pessoas, das demandas que o mundo joga sobre a gente. Nessa linha, seríamos uma espécie de camaleão, adaptando-nos ao ambiente, mas sem um eu central que governe tudo.
Se pensarmos em William James e seu trabalho The Principles of Psychology (1890), ele já começava a explorar que nosso self é composto de várias partes – material, social, espiritual – todas com um certo grau de independência. Ele propôs que não somos uma só identidade, mas sim vários "eus" que se moldam à realidade ao nosso redor.
George Herbert Mead amplia isso em Mind, Self, and Society (1934) ao observar que o self não é só um produto interno, mas é construído nas interações. É como se o self fosse uma resposta contínua, oscilando entre o "eu" mais espontâneo e o "mim" social, aquilo que internalizamos das normas, das expectativas dos outros. Somos moldados, em grande parte, pelo olhar alheio.
E Erving Goffman, em The Presentation of Self in Everyday Life (1959), faz uma leitura teatral dessa questão. Ele nos vê como atores sociais que assumem diferentes papéis conforme o palco. Cada interação é uma performance, cada situação pede um self específico, adaptado ao público, às normas. Isso é uma forma de multiplicidade que, na visão de Goffman, é quase inevitável na sociedade.
No contexto moderno, Kenneth Gergen com The Saturated Self (1991) fala dessa "identidade saturada". Somos bombardeados por influências sociais de todos os lados – redes sociais, demandas do trabalho, ideais de família, identidade, religião – e isso gera uma multiplicidade de selves que, às vezes, nem sabemos mais de onde surgem. A identidade moderna seria, assim, um reflexo dessa fragmentação, um self que nunca está inteiro, que responde a todas as exigências ao mesmo tempo.
Na psicanálise, Philip Bromberg, em Standing in the Spaces (1998), propõe que esses selves são como estados internos que coexistem e, às vezes, entram em conflito. Bromberg nos convida a ver a saúde psíquica como a capacidade de transitar entre esses estados sem perder a coesão interna. É como se fossemos costurando esses retalhos, buscando uma forma de conviver com essa diversidade de selves.
Então, quando falamos de múltiplos selves, estamos abordando uma identidade que é menos uma essência fixa e mais um organismo que se adapta, responde e, muitas vezes, se perde entre fragmentos. É um self que reflete, sim, a complexidade, mas também a fluidez, a maleabilidade que a vida contemporânea exige. Talvez, ao invés de tentar achar um "eu verdadeiro", seja mais sensato aceitar a pluralidade e ver nisso uma forma de sobrevivência, de adaptação – um self que habita as brechas, que é tanto o palco quanto o ator, a máscara e o rosto.
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