O processo terapêutico é, acima de tudo, um movimento: uma travessia através de paisagens emocionais que, como o tempo, não se oferecem de forma linear. A mudança psíquica não segue uma sequência previsível; ela avança, recua, hesita, como um rio que encontra pedras, desvia-se e depois retoma seu curso. Nesse cenário, o modelo transteórico de Prochaska e DiClemente, a Terapia Dinâmica Experiencial Breve (TDEB) de Leigh McCullough e a psicanálise relacional emergem como ferramentas complementares, cada qual oferecendo uma lente para compreender e intervir na fluidez deste processo. A integração entre essas abordagens não é apenas uma questão de técnica; é uma dança entre momentos de experiência emocional intensa e reflexões sobre o significado que a história imprime no corpo.
Na base dessa integração está a ideia de que mudar é reescrever um vínculo: um vínculo com o outro, com o passado, com os afetos e, sobretudo, consigo mesmo. O modelo transteórico desenha um mapa de estágios, como se pudesse nomear as margens de um rio emocional: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação, manutenção, recaída. Não há nada de mecânico nesses nomes; são antes gestos, pequenos movimentos que falam do encontro entre o desejo de transformação e o peso das repetições. A TDEB e a psicanálise relacional, por sua vez, oferecem as chaves para navegar essas margens, cada uma com sua abordagem singular.
A TDEB é o gesto do corpo que encontra a emoção reprimida. Sua força está no acesso direto aos afetos básicos – amor, raiva, tristeza, alegria – que muitas vezes se escondem sob camadas de ansiedade e vergonha. Ela trabalha no nível do imediato, no aqui e agora onde a vida emocional acontece como um incêndio que não se pode ignorar. Em um estágio como a pré-contemplação, onde o paciente ainda não reconhece o problema, a TDEB é a lanterna que ilumina o terreno desconhecido. O terapeuta aponta para as defesas, desafia o paciente a sentir, como quem destampa um rio represado. "O que acontece no seu corpo agora?", pergunta, não como uma curiosidade analítica, mas como um convite para tocar o que foi evitado.
Já a psicanálise relacional é a mão que acompanha o paciente na travessia de suas narrativas. Se a TDEB é o fogo da emoção, a psicanálise relacional é o solo onde os significados podem se assentar. Em estágios como a contemplação, quando o paciente vacila entre o passado e o futuro, o analista relacional não força o curso do rio. Ele observa como os padrões de relação emergem no encontro terapêutico, como o medo de mudança se manifesta na transferência, como o desejo de agradar ou de resistir colore a interação. Aqui, o "eu" e o "você" tornam-se o campo onde o velho e o novo se encontram, não como opostos, mas como forças que se influenciam mutuamente.
A dança entre essas abordagens ganha potência quando considerada à luz dos estágios de mudança. Na ação, por exemplo, onde o paciente se lança na tarefa de mudar de fato, a TDEB oferece a energia para romper barreiras emocionais, enquanto a psicanálise relacional proporciona o espaço seguro para refletir sobre o que essa mudança significa na sua teia de relações. É como construir uma ponte: a TDEB é o impulso que ergue os pilares, e a psicanálise relacional é o olhar atento que garante que a estrutura se sustente.
Mas é na recaída que essa integração revela sua maior sabedoria. O modelo transteórico nos lembra que voltar atrás faz parte do processo, não como falha, mas como revisão. É nesse momento que a TDEB pode ajudar o paciente a acessar a tristeza ou a culpa sem ser esmagado por elas, enquanto a psicanálise relacional explora o que essa recaída revela sobre o paciente e sua relação consigo mesmo. Em vez de um ciclo de frustração, o processo torna-se espiralado, um retorno que é também um avanço.
Essa integração, no entanto, não é isenta de tensões. A TDEB, com sua abordagem mais diretiva e experiencial, pode parecer em desacordo com a delicadeza intersubjetiva da psicanálise relacional. E, no entanto, é na tensão entre o corpo e a narrativa, entre o aqui e agora e o passado revivido, que a mudança encontra sua plenitude. O modelo transteórico, com sua linguagem quase pragmática, oferece o quadro para que essas forças coexistam, lembrando-nos de que a mudança é tanto uma experiência quanto uma história.
No final, o paciente não é um barco que o terapeuta conduz pelo rio, mas o próprio navegador, que aprende a ler as águas enquanto avança. A TDEB lhe ensina a sentir o vento, a reconhecer as correntes invisíveis dos afetos; a psicanálise relacional, por sua vez, o ajuda a interpretar os mapas, a compreender de onde vem e para onde vai. O modelo transteórico é o cronômetro, que marca o tempo não como tirania, mas como ritmo, lembrando que cada travessia tem seu momento certo de se completar. É nessa integração que a terapia se torna mais do que um caminho; torna-se vida que flui, encontra e se transforma.
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