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Foto do escritorMário Bertini

Regulação emocional: a dança das emoções ou como navegar sem se afogar

Há algo de profundo e misterioso na maneira como as emoções nos atravessam, como ventos que sopram por um vale estreito, sem aviso, sem direção definida. A regulação emocional, então, não é apenas um exercício de controle ou autocontenção — é, antes de tudo, um processo de acolhimento íntimo, de escuta atenta, onde aprendemos a decifrar o que cada emoção traz consigo, como se cada uma carregasse uma mensagem, uma cifra perdida que só aos poucos conseguimos decodificar.


A primeira tarefa, talvez a mais difícil, é dar nome a essa turbulência interna. Não raro, nos encontramos perdidos num mar de sensações que se confundem e se misturam, como tintas derramadas num papel que não quer absorver. Raiva, medo, tristeza: elas dançam numa sequência desordenada, e muitas vezes nos falta a linguagem para capturá-las. Mas, sem nomeá-las, como poderíamos entendê-las? E sem entendê-las, como poderíamos viver de forma mais plena, mais verdadeira?


E compreender não é simplesmente saber que estou triste ou ansioso, é um processo mais denso, quase arqueológico, em que precisamos desenterrar significados soterrados sob camadas de histórias, memórias, expectativas. Cada emoção carrega, na sua raiz, um grito silencioso que ecoa dos recantos mais sombrios da psique, e há de se ter coragem para ouvi-lo. Assim, regular as emoções não é calá-las, mas traduzi-las, encontrar formas de modulá-las como se ajustássemos o volume de um instrumento até que ele se harmonize com a melodia da vida que queremos compor.


Há uma beleza selvagem em aprender a modular a intensidade de um sentimento sem amputá-lo. Como um jardineiro que poda uma planta não para impedir seu crescimento, mas para que cresça com mais vigor e direção. Aprender a sentir, mas não ser consumido. Deixar que a raiva, a angústia, a alegria façam seu percurso, como rios que correm para o mar, sem represá-los, mas também sem deixar que suas águas inundem tudo o que encontramos pelo caminho.


Na psicanálise, essa jornada de regulação é mais do que um ajuste consciente — ela mergulha nas profundezas de um inconsciente que tece sua própria lógica, uma lógica que nos escapa, que nos provoca e nos empurra para direções inesperadas. Quando penso na função materna de que fala Winnicott, ou na capacidade de “contenção” descrita por Bion, vejo um mapa traçado nas margens do tempo, onde o cuidar é um trabalho de transformação, onde a emoção bruta é convertida em algo que pode ser pensado, digerido, integrado. Não se trata de negar a dor, mas de lhe dar forma, de criar um espaço onde ela possa existir sem nos dilacerar.


No consultório, a regulação emocional é um ato de coragem compartilhada, um convite a se sentar à mesa com nossos demônios internos, a ouvi-los sem temor, a negociar com eles novos significados. É o momento em que, juntos, paciente e terapeuta, percorremos os corredores sombrios da alma em busca de frestas de luz, tentando encontrar uma forma de habitar o próprio ser com mais leveza. Porque, ao fim, não se trata de controlar o que sentimos, mas de aprender a viver com aquilo que somos, acolhendo as ondas que chegam e partem, uma a uma, sem pressa de acalmá-las, mas também sem nos afogar nelas.


Criado com auxílio de IA

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