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“O Bordado da Ilusão: Entre Desejo e Realidade”

Em seu entrelaçar com o real, a ilusão não se apresenta como véu meramente enganoso, mas como um bordado tenaz que repara as fendas do ser. Freud já nos ensina que ela brota do desejo — não erro, mas aposta da alma — um salto de fé lançado contra o mundo, carregado tanto de vigor sustentador quanto do risco de ruir em desilusão.


Em um psiquismo saudável, essa aposta é dança antes de mapa: passo que nos impele adiante sem conhecer a rota, esboço de possibilidades que ensaia respostas provisórias ao abismo do desconhecido. É a brisa incerta que, ao soprar, faz velejar o barco frágil rumo a águas inexploradas — sem seu sopro, a embarcação jamais deixaria o cais imóvel.


Mas, como alerta André Green, não basta a efervescência inicial: é preciso maturidade do pensamento para interrogar a fantasia. Assim, a ilusão escapa ao delírio infinito quando recolhida à vigília crítica, mantida viva como fonte inventiva, sem jamais colonizar a percepção. Nesse limiar, desejo e verdade íntima se encontram, não para confundir-se, mas para nutrir-se.


Na lente relacional de René Roussillon, nossas ilusões são molduras projetadas sobre o outro; ao recebermos seu retorno, redesenhamos nosso próprio reflexo. A ilusão verdadeiramente saudável não aprisiona nesse jogo de espelhos, mas o amplia, acolhendo o encanto e o susto do inesperado. É nesse espaço transicional — véu que protege e laboratório de convivência — que a vida psíquica se tece.


Portanto, longe de obstáculo ao conhecimento, a ilusão, quando medida e continuamente interpelada, revela-se condição de possibilidade: gesto criador que nos permite inventar sentidos, ousar na construção de si e do outro, e suportar o peso do real enquanto erguemos pontes de fantasia destinadas, ao fim, a encontros genuínos. É na trama entre o que almejamos e o que somos que pulsa o ritmo vivo de um psiquismo sadio.




Criado com auxílio de IA



 
 
 

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©2023 by Mário Bertini Psicólogo e Psicanalista

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