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Foto do escritorMário Bertini

Contra a empatia!

A empatia e a compaixão são habilidades complexas e essenciais na prática terapêutica, com papéis distintos que podem transformar a relação entre terapeuta e paciente. A neurociência tem contribuído para uma compreensão mais profunda dessas capacidades ao demonstrar que ambas ativam áreas específicas do cérebro, como a ínsula e o córtex cingulado anterior – regiões responsáveis por processar emoções intensas, como a dor física e emocional. Esses estudos sugerem que, ao sentir empatia, o terapeuta literalmente experimenta, em certo nível, a dor do paciente. Mas essa experiência, quando ocorre de forma intensa e contínua, pode ser desgastante e até prejudicial.


É aqui que a distinção entre empatia e compaixão se torna crucial. Para Tania Singer, a compaixão difere da empatia ao permitir que o terapeuta responda ao sofrimento do paciente sem ser consumido por ele. A empatia nos faz "sentir com" o outro, muitas vezes espelhando diretamente seu sofrimento, enquanto a compaixão nos faz "sentir por" – um movimento de cuidado que permite ao terapeuta manter uma conexão saudável e equilibrada. Essa diferença é essencial na prática terapêutica: a compaixão cria um espaço acolhedor e seguro, no qual o terapeuta está presente, mas não absorve as dores do paciente de forma intensa, o que protege sua própria saúde mental.


Singer enfatiza que a compaixão não é algo que simplesmente acontece; é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Práticas como a meditação compassiva, originária das tradições budistas, ensinam o terapeuta a cultivar sentimentos de bondade e desejo de bem-estar para os outros. Em um contexto terapêutico, a meditação compassiva ajuda o profissional a manter uma atitude de apoio e compreensão genuína sem que ele mesmo se desgaste emocionalmente. Com a prática regular, o cérebro é treinado para reagir com compaixão, em vez de empatia pura, promovendo uma presença mais equilibrada e resiliente.


Mas o que é compaixão, exatamente? Para além de uma resposta ao sofrimento, a compaixão envolve um impulso para agir, um desejo ativo de aliviar a dor do outro. Diferente da empatia, que pode ser emocionalmente desgastante, a compaixão permite uma regulação emocional onde o terapeuta é capaz de manter uma conexão significativa, sem perder o distanciamento necessário. Esse equilíbrio é essencial para profissionais de saúde mental, pois possibilita uma relação terapêutica autêntica e sustentável, beneficiando tanto o cliente quanto o terapeuta.


A psicanálise relacional acrescenta uma perspectiva rica à importância da compaixão na prática terapêutica. Nessa abordagem, o terapeuta e o paciente são vistos como co-construtores de uma experiência compartilhada. Ambos influenciam e são influenciados pela interação, e a compaixão emerge como uma ferramenta poderosa para facilitar um espaço seguro e mutuamente respeitoso. Aqui, a compaixão permite ao terapeuta criar uma “terceira posição” – um espaço acolhedor onde o sofrimento é respeitado, mas sem que o terapeuta precise absorvê-lo intensamente.


Esse “terceiro espaço” é uma postura de presença compassiva, na qual o terapeuta oferece ao paciente um ambiente de acolhimento e aceitação. Ele atua como uma âncora emocional, mantendo-se atento às necessidades do paciente sem se perder no fluxo de emoções intensas que surgem no processo terapêutico. Nessa prática relacional, a compaixão é mais do que uma reação ao sofrimento; é uma escolha consciente de estar presente e disponível, criando uma base segura que permite ao paciente explorar seus sentimentos de forma autêntica e, ao mesmo tempo, protegendo a integridade emocional do terapeuta.


Essa perspectiva é fortalecida por estudos de neurociência, que mostram que práticas regulares de compaixão, como a meditação compassiva, podem alterar a forma como o cérebro reage ao sofrimento. A resposta neural ao estresse diminui, e em seu lugar surge uma sensação mais calma e centrada. Esse tipo de prática não apenas protege o terapeuta contra a fadiga empática, mas também melhora a qualidade da experiência terapêutica. Afinal, pacientes muitas vezes percebem a diferença entre um terapeuta exausto e um que está emocionalmente presente e energizado.


Na prática terapêutica, a compaixão também fortalece a resiliência do terapeuta. Profissionais que cultivam essa habilidade relatam menor incidência de burnout e um maior senso de satisfação com o trabalho. Isso ocorre porque a compaixão permite uma resposta que é ao mesmo tempo emocional e cognitiva, um equilíbrio que promove um sentimento de propósito e controle sobre a prática. Assim, a compaixão beneficia não apenas o paciente, mas também o terapeuta, criando um ciclo positivo de suporte e bem-estar.


A compaixão possibilita ao terapeuta criar um ambiente terapêutico acolhedor, oferecendo suporte para que o paciente enfrente suas dificuldades emocionais. Em vez de internalizar as dores do paciente, a compaixão permite que o terapeuta ofereça uma presença estável e confiante, ajudando o paciente a sentir que seu sofrimento será respeitado e validado, mas sem transferir essa carga emocional para o terapeuta.


Ao final, a distinção entre empatia e compaixão redefine o papel do terapeuta como um cuidador compassivo. A neurociência e as práticas de compaixão nos mostram que essa presença compassiva é uma habilidade que pode ser cultivada, promovendo uma prática terapêutica simultaneamente eficiente e sustentável. A psicanálise relacional, com sua ênfase na construção mútua do espaço terapêutico, reforça que a compaixão não é apenas uma resposta ao sofrimento, mas uma prática ativa que sustenta a relação terapêutica e protege o terapeuta. Que pacientes e terapeutas possam buscar essa abordagem compassiva, criando juntos um espaço de cura e crescimento.


Criado com auxílio de IA.

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