O primeiro contato em psicoterapia é, paradoxalmente, um lugar sem território definido, uma entrada sem porta visível. É uma etapa onde a relação entre terapeuta e paciente ainda não existe, mas o potencial para sua construção já pulsa. Neste espaço inicial, palavras ditas e não ditas se entrelaçam, formando um prelúdio que reverbera para além de sua aparente simplicidade.
A análise desse momento revela uma tensão entre a necessidade de praticidade e a dimensão subjetiva que caracteriza o encontro terapêutico. Um simples "Bom dia" carrega em si a possibilidade de acolhimento ou de distanciamento. Não se trata apenas de agendar um horário ou informar valores, mas de criar, na troca inicial, uma atmosfera que antecipe o espaço analítico, com seus contornos de segurança e abertura.
A Escuta no Primeiro Contato
No primeiro contato, o que se diz é tão importante quanto como se diz. A escuta do terapeuta começa antes mesmo da sessão, nos silêncios entre as mensagens, nas palavras escolhidas pelo paciente, nas hesitações que já sugerem resistências. Aqui, o terapeuta deve se aproximar não como um técnico, mas como alguém disposto a abrir uma porta que o paciente sequer sabia que estava fechada.
Essa escuta inicial requer sensibilidade para identificar demandas explícitas e implícitas. O paciente pode procurar um horário, mas traz consigo um pedido mais profundo: o de ser ouvido, acolhido, legitimado em sua busca por ajuda.
O Silêncio e a Palavra na Escrita
Um ponto de atenção surge na escrita. A comunicação por mensagens fragmenta o ritmo da conversa, exigindo que o terapeuta componha frases que carreguem em si uma completude que não impeça a continuidade. Um “Se tiver dúvidas, fico à disposição” pode parecer suficiente, mas carece de profundidade. A escrita, no contexto terapêutico, deve ecoar a escuta flutuante: abrir espaço para que o outro se expresse sem se sentir pressionado.
O Acolhimento e o Contrato
Há também o aspecto prático, inevitável e necessário. O valor da sessão, a forma de pagamento, a confirmação do horário — todos elementos que situam o encontro no campo do possível. No entanto, a forma como são apresentados pode determinar se o paciente sentirá que está entrando em um espaço terapêutico ou negociando um serviço.
Um cuidado especial deve ser tomado ao estruturar essas informações, de modo que a mensagem final não soe impessoal. Aqui, acolher é mais do que escutar; é comunicar ao outro que há espaço para suas dúvidas, para sua hesitação, para sua chegada incompleta.
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Simulação de Atendimento
Paciente: "Olá, me chamo Roger. Gostaria de saber se você tem horário quinta às 08h para uma consulta."
Terapeuta: "Olá, Roger. Obrigado por entrar em contato. Sim, tenho disponibilidade nesse horário e posso reservar para você."
Terapeuta: "O valor da sessão é 200 reais, e o pagamento pode ser feito via Pix até o horário da consulta. Caso tenha dúvidas sobre isso ou algo mais que queira compartilhar antes da nossa conversa, estarei à disposição."
Terapeuta: "Será um prazer receber você. Confirmamos o horário então?"
A reformulação acima demonstra como uma mensagem pode ser acolhedora, prática e aberta. Cada frase convida o paciente a sentir que há espaço para sua experiência, suas dúvidas e seus silêncios.
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