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Foto do escritorMário Bertini

Quem tem medo da Judite?

Judith Butler, em seu livro "Giving an Account of Oneself", faz uma abordagem inovadora sobre ética e responsabilidade, explorando o que significa "dar conta de si mesmo" de uma forma que desafia ideias tradicionais. Em vez de buscar certezas sobre certo e errado, Butler investiga os limites de nossa capacidade de entender e explicar quem somos, mostrando que nossa identidade é formada em relação a fatores externos – contextos sociais, culturais e históricos – e a outras pessoas.

Um dos primeiros pontos de Butler é a crítica à ideia de autonomia total. Ela argumenta que o "eu" é sempre, em alguma medida, opaco para si próprio, ou seja, uma parte de quem somos e do que fazemos escapa ao nosso entendimento completo. É como se tentássemos montar um quebra-cabeça onde algumas peças estão fora do nosso alcance, moldadas pelo ambiente em que vivemos, pela cultura que nos influencia e pelo idioma que falamos. Assim, ao darmos conta de quem somos, nunca conseguimos fornecer uma explicação final; sempre há algo fora do nosso controle que também nos constitui.

Outro conceito-chave do livro é a formação do "eu" em relação ao "outro". Butler propõe que ninguém é autossuficiente; desde o nascimento, somos formados e influenciados pelas interações com outras pessoas e pelo contexto em que estamos inseridos. Nossas identidades são moldadas por relações e trocas que fazem parte de nossa experiência social. Por isso, entender a si mesmo também implica reconhecer o impacto que o "outro" teve em nossa formação, o que significa que nossa compreensão de quem somos nunca é totalmente independente.

Além disso, Butler argumenta que, apesar de sermos responsáveis por nossas ações, nunca conseguimos dar conta completa de por que agimos de determinada maneira. Há limitações na linguagem e nos conceitos que usamos para tentar explicar nossos sentimentos e motivações. Muitas vezes, as palavras não conseguem captar a complexidade do que realmente se passa dentro de nós, e isso nos lembra que nossa autocompreensão é, em última análise, incompleta.

Essa limitação, para Butler, traz uma nova visão sobre responsabilidade ética: aceitar que nunca temos todas as respostas sobre nós mesmos. Isso nos torna mais humildes no julgamento dos outros, porque entendemos que eles também enfrentam essa mesma dificuldade em se entender. Em vez de buscar certeza absoluta, Butler sugere uma ética baseada na aceitação das incertezas e das limitações de cada um, o que nos leva a cultivar uma postura de abertura e compreensão em relação ao outro.

Por fim, Butler propõe uma "ética da vulnerabilidade". Ao aceitar que somos vulneráveis e dependemos do outro para nossa formação, ela sugere que a verdadeira responsabilidade ética passa a ser reconhecer e respeitar essa fragilidade mútua. Compreender que tanto nós quanto o outro somos "opacos" para nós mesmos pode criar um espaço de empatia e compaixão em nossas interações.

Em resumo, "Giving an Account of Oneself" desafia as noções tradicionais de ética ao enfatizar nossa interdependência, fragilidade e os limites da autocompreensão. É uma proposta para que, em vez de fixar regras rígidas, pensemos na ética como um compromisso contínuo de respeito à complexidade humana.



Criado com auxílio de IA.


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